Como será o tango Brasil-Argentina - Eko News

CONTEÚDO QUE EXPLICA A NOTÍCIA

Negócios

Como será o tango Brasil-Argentina

Data de Publicação: 22 de novembro de 2023

Milei e o comércio com o Brasil

Há um novo cenário comercial para se materializar nos próximos meses a partir da posse do presidente da Argentina. Seu discurso muito me lembra o do nosso ex-presidente Fernando Collor. Apaixonado por automóveis, colecionador de alguns e, portanto, adepto da liberação das importações de carrões de luxo para que o argentino de médio e alto poder aquisitivo possa desfilar por Buenos Aires. Isso nos impacta diretamente por conta dos acordos firmados entre a indústria automobilística brasileira e argentina. Quebrar da noite para o dia estes compromissos não são tão simples como parecem e os impactos econômicos financeiros decorrentes desta decisão, ainda não são totalmente conhecidos para ambas economias.

Pode dar certo? Até pode, mas a possibilidade de dar errado e impactar ambas cadeias de produção é iminente.

Por outro lado, há a ameaça de campanha de que Argentina se retire do Mercosul e ao cabo desta decisão inúmeros acordos e compromissos firmados nos últimos trinta anos se esvaiam.

Uma vez mais a decisão abrupta e de rompante será nefasta aos vários compromissos assumidos, inclusive com a União Europeia recentemente.

Ainda há o peso das commodities na pauta de exportação argentina que amarga resultados pífios recentemente em função da falta de investimentos e da seca prolongada.

Quando uma economia forte e estável se propõe a trazer mudanças impactantes junto aos seus parceiros comerciais, a relevância das decisões deve ser muito bem observada e monitorada.

Quando parte de uma economia cambaleante, permeada de pontos sensíveis, o discurso nos parece muito mais retumbante do que as ações serão de fato.

Não se quer aqui imaginar que não devemos nos preocupar com o conhecido rompante portenho de tomar decisões de impacto apenas no dia seguinte, até porque, nós brasileiros somos mestres neste assunto também, mas sim de imaginar que seu discurso é muito mais voltado ao seu próprio eleitor (e não foram poucos) do que à nossa economia, mais forte e com várias outras opções comerciais mundo afora do que com nosso austral parceiro.

Se a esta altura não tivermos outras alternativas comerciais, aí sim pode-se dizer que “estamos dormindo no ponto” mais uma vez.

 

Por Ângelo Agulha

Professor especialista em Negócios Internacionais